domingo, 25 de novembro de 2012

Só por hoje

Gostaria de pedir que esta noite, só esta noite, você saia da minha cabeça. Nossa situação barroca, de estarmos sempre divididos pelo o que se quer e o que se deve, já me cansou demais - ao menos uma noite, eu quero descansar. Gostaria de pedir que me deixe esquecer a dialética que somos - nestas últimas horas antes do sol nascer, quero poder esquecer que, apesar de opostos, não vivemos sem o outro. Se não for abusar da boa vontade, gostaria de pedir ainda que amanhã, após o descanso de hoje, você me canse o dobro, pois já estarei com saudades de me cansar de você. 

sábado, 24 de novembro de 2012

E se...

Estava pensativa durante as primeiras horas do dia, as primeiríssimas, antes mesmo do sol nascer. Liguei a TV, que é a companhia daqueles que são sozinhos. Ouvi aquela voz cantando aquela música. Era Djavan concordando comigo, cantando a letra dos meus pensamentos: "mas você adora um se...".
Eu adoro um "se". O "se" nos permite imaginar uma infinidade de realidades paralelas àquela que nossas escolhas constroem. "E se eu pudesse ver o futuro e visse que, daqui uns anos, nós...", parei de pensar! Melhor não colocar em palavras esse tipo de coisa, é perigoso. Voltei a ouvir a voz da TV, "São Jorge por favor me empresta o dragão". Quando me dei conta, minha voz se misturava com aquela outra e eu cantava o refrão, quase tropeçando na densidade daquelas palavras. 
Um tempo depois, outra voz bateu em cheio nos meus ouvidos e cantou a letra de pensamentos que eu nem ao menos tinha. Ou tinha? Já não sei dizer, mas cantou... "E das tripas coração, mais uma tarde pra levar meu amor pra eternidade. Meu amigo, por favor, me aguarde, que a gente vai se encontrar."

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Machado de Assis

"Não gosto de lágrimas, ainda em olhos de mulheres, sejam ou não bonitas; são confissões de fraqueza, e eu nasci com tédio aos fracos. Ao cabo, as mulheres são menos fracas que os homens,ou mais pacientes, mais capazes de sofrer a dor e a adversidade..."

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Caio Fernando Abreu

"Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem juntos para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada."


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dublê de Corpo- Tess Gerritsen

"Yoshima começou a tirar fotografias do cérebro exposto, capturando um registro permanente de sua aparência antes de Abe removê-lo da caixa de ossos. Ali estava uma vida inteira de memórias, pensou Maura ao olhar para as volutas brilhantes de massa cinzenta. O ABC da infância. Quatro vezes quatro é dezesseis. O primeiro beijo, o primeiro amante, o primeiro coração partido. Tudo estava depositado, como pacotes de RNA mensageiro, naquela complexa coleção de neurônios. A memória era puramente bioquímica, embora definisse cada ser humano como um indivíduo."
Ship Anchor